Uma das leituras que tirou meu sono nesses últimos dias, literalmente, foi Eu me lembro, livro-memória do consagrado ator e diretor Selton Mello. Uma autobiografia diferenciada de tudo que li até hoje. Em vez de ficar relatando sua história de vida sob um ponto de vista pessoal, preferiu convidar 40 amigos a enviarem perguntas para ele. Sem restrição de tema nem combinação prévia.
O livro tem por objetivo celebrar seus 50 anos de vida e 40 anos de carreira artística. Uma trajetória de grande sucesso, portanto, marcada por personagens icônicos que fazem parte de nosso imaginário. A exemplos de Xicó, do filme O auto da compadecida, e Abelardo da novela Força de um desejo.
Entre os convidados, despontam profissionais de áreas distintas, na grande maioria, ligados às artes, principalmente à dramaturgia – Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro, Zezé Motta, Matheus Nachtergaele, Marjorie Estiano, Camila Pitanga, Dira Paes, além de Jefferson Tenório, Ana Paula Maia e Zuenir Ventura, escritores, Raí, ex-jogador de futebol, Pedro Bial, jornalista, e Moacyr Franco, cantor e comediante. Com leveza e toques de humor, Selton não deixou nenhuma indagação sem a devida resposta.
De forma comovente, relembra passagens da infância no interior de Minas Gerais, o desejo de ser ator, nascido ainda na meninice, a mudança para a Cidade Maravilhosa, a fim de abraçar a carreira artística, o emprego de dublador, os inúmeros trabalhos em novelas e filmes, a relação afetiva com os pais e irmão, sobretudo, com a mãe, dona Selva, hoje portadora de Alzheimer.
Se já o admirava como ator e diretor, agora passei a admirá-lo enquanto ser humano. Uma figura iluminada, talentosa e inspiradora na produção de arte, para quem “a realidade não basta, eu preciso de componentes mais mágicos. Assim tenho caminhado: vivendo do trabalho e sobrevivendo dos sonhos”.
Além do livro, nada melhor que viajar também nos filmes de sua autoria, verdadeiras obras-primas do cinema brasileiro: Feliz natal (2008), O palhaço (2011) e O filme da minha vida (2017), bem como noutros em que simplesmente atua: Lisbela e o prisioneiro (2003), Lavoura arcaica (2001), O cheiro do ralo (2007).
*****
Wellington Soares é professor, escritor e produtor cultural - nas redes sociais.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.