O teresinense H. Dobal não morria de amores por Teresina. Entre amigos, afirmava: “é uma cidade medíocre”. O que mais impressionava o poeta eram os letreiros da cidade. Às vezes, nos finais de tarde, saíamos para passear pelos subúrbios de Teresina Dobal fazia comentários irônicos sobre o que via. Um dia, resolvi fazer um livrinho sobre o tema. Assim nasceu GRANDEZA E GLÓRIA nos letreiros de Teresina, publicado por mim em 1997. O livro traz fotografias de Suzana Dobal, filha do poeta.
Lá pelas tantas, Dobal afirma: “Uma arquitetura corrompida desfigura o centro da cidade, onde antigas residências familiares remendadas, mal adaptadas como lojas, principalmente pequenas dos bairros, proclamam uma grandeza que só existe na fantasia dos proprietários, chegando mesmo a casos de megalomania explícita”.
O poeta termina o livrinho afirmando: “Conclusão: não há dúvida, nos letreiros de Teresina estão concentradas as audácias de uma cidade tímida”.
Na semana passada, nas proximidades do Museu do Piauí, deparei-me com uma placa que diz muito dessa brava gente: GAIOLÂNDIA SÃO FRANCISCO – cuidando bem do seu animal. Vejam o paradoxo: uma loja onde se vendem gaiolas homenageia São Francisco de Assis, considerado o protetor dos animais. Infelizmente, Dobal tinha razão.
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Cineas Santos, professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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