Dia desses, vivi a alegria de reencontrar Simão Teles Bacelar (o Sima), um dos mais extraordinários jogadores do futebol brasileiro. Sima figura entre os dez maiores artilheiros do Brasil. Não bastasse isso, é um cidadão distinto, na acepção plena do termo.
Mas vamos ao não acontecido. Gastei boa parte da minha cota de vida correndo atrás de bola. Como mulher que se sabe muito desejada, a redonda nunca fez caso dos meus carinhos: sempre me tratou com a mais absoluta indiferença, o que não me impediu de persegui-la.
Na Vila Operária, celeiro de grande craques do Piauí, a cada final de ano, realizava-se um jogo disputadíssimo: casados contra solteiros. Tudo era pretexto para cerveja e resenha, ou seja, alegria.
Um final de ano, resolveu-se realizar um jogo entre os peladeiros da Vila e um time do bairro Buenos Aires, no campo deles. Por pura delicadeza e camaradagem, convidaram-me a integrar a equipe da Vila. De repente, lá estava eu, um canela de pau, ao lado de Toinho, Derivaldo, Edmilson Leite, Aníbal, Sima e Pila. Finalmente, eu iria realizar o meu sonho de consumo: cruzar uma bola para o cabeceio certeiro do Sima. Eu falei sonho...
Na data apalavra, o Sima, com caxumba, não pôde jogar. Pensei em desistir do jogo, mas seria um desfeita para com os amigos. Joguei absolutamente desmotivado, ouvindo as constantes críticas do Derivaldo. Já no final da partida, esqueceram-se de mim lá na ponta direita. De repente, chegou-me uma bola à feição, como diria o Júnior. Caprichei no cruzamento: a bola caiu certinha na cabeça do baixinho Pila. O craque subiu e cabeceou com estilo. Caprichosamente, a bola beijou o travessão e saiu pela linha de fundo.
De uma forma ou de outra, vencemos o jogo. Finda a partida, não resisti à tentação de comentar com o Pila: meu irmão, me desculpe a franqueza, mas aquela bola era para o Sima. Bem-humorado, o Pila limitou-se a dizer: “Ele não faria melhor”. E tudo terminou em samba, suor e cerveja...
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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