Chico Buarque de Holanda chega aos 80 anos de idade com algumas rugas, poucas rusgas e muitos motivos para comemorar. Nenhum compositor brasileiro contemporâneo fez tanto e de forma tão constante quanto ele. Nunca foi uma unanimidade, mas esteve bem perto. A ditadura não gostava dele; alguns intelectuais, também não. Millôr Fernandes, por exemplo, não lhe perdoava o sucesso. Com fina ironia, afirmou: “Desconfio de todo idealista que ganha dinheiro com seu idealismo”. Chico foi curto em grosso: “Não vou brigar com o Millôr: eu não bato em velho”.
Em 1979, Chico gravou “Jorge Maravilha” com letra irreverente e provocativa: “Você não gosta de mim/ mas sua filha gosta”, afirmava o refrão. A censura não gostou. 45 anos mais velho, ignorado ou hostilizado pelos jovens de hoje, se Chico fosse repaginar a música, teria de reescrevê-la assim: “Você não gosta de mim/ mas sua mãe gosta”. Isso prova que o tempo não perdoa a ninguém. De uma forma ou de outra, Chico Buarque propiciou aos da minha geração momentos inesquecíveis. Longa vida, “seu” Francisco!
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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