1. O Conselho Eleitoral Venezuelano declarou a eleição de Maduro (no último domingo). E este se pronunciou, logo em seguida, como presidente reeleito, vitorioso no processo eleitoral.
2. De pronto: EUA e União Europeia não reconheceram a eleição de Maduro e disseram, em outras palavras, que as eleições foram “manipuladas/fraudadas”; China, Rússia, Irã e Cuba creditaram o resultado eleitoral, dizendo ser legítimo.
3. Essas duas posturas representam apenas a configuração geopolítica mundial da atualidade. Toda e qualquer disputa demonstra isso (ver, por exemplo, a Guerra da Ucrânia e conflito Israel e HAMAS na Faixa de Gaza).
4. Simplesmente, os dois Blocos de Poder transformaram a Venezuela em palco de disputa: nada a ver com interesses do povo venezuelano: nada, nada, nada! Muito menos, qualquer apreço por eleições limpas e regimes democráticos. Apenas disputa de poder, demarcação de território... Essas posições não refletem, portanto, qualquer avaliação meritória: apenas, alinhamento automático, consonante dos respectivos interesses econômicos, bélicos, geopolíticos, enfim...
5. O Terceiro Bloco - que se posiciona de forma aparentemente NEUTRA ou DÚBIA – é formado por BRASIL, COLÔMBIA e MÉXICO. Os países desse Bloco não são protagonistas da disputa global e, nesse caso, estão, verdadeiramente, preocupados com a ESTABILIDADE INSTITUCIONAL DA REGIÃO (América Latina e América do Sul, mais especificamente). Mas isso também diz respeito às relações de poder e território entre os estados nacionais.
6. No caso, não se trata, portanto, de dubiedade, neutralidade ou fragilidade, mas de cálculo político, de tática: como participar desse no jogo, demarcando posição própria e fora do alcance (ou pelo menos com autonomia) dos interesses dos dois grandes polos, e evitar que a Região (formada por estados nacionais com interesses e potenciais próprios) não seja mera extensão da disputa dos dois grandes agrupamentos encabeçados, de um lado, por EUA e União Europeia e, de outro, por China e Rússia.
7. É nesse contexto que FAZ SENTIDO cobrar a divulgação dos Boletins/Atas, porque se trata de um elemento técnico, apontado pelos dois lados (Governo e Oposição) como referência das suas decisões: um se diz eleito, baseado nas Atas, e o outro, também!. Vale dizer que, segundo o próprio Conselho Eleitoral, a proclamação do vencedor se dera com apuração de apenas 80% dos votos.
8. Na esfera dos Estados nacionais, é estranha a posição do Chile (que tem um presidente de centro-esquerda, com algum grau de responsabilidade), o qual se apressou em afirmar que as “eleições foram fraudadas”. Já era esperada - porém inexpressiva - a postura da Argentina, cujo presidente não é levado a sério em nenhum lugar do mundo.
9. O esforço do Brasil (mais Colômbia e outros países da América), ao articular o Acordo de Barbados, tinha entre seus objetivos - a partir da realização de eleições com regras pactuadas e compromisso com o resultado - afastar a instabilidade política e institucional dessa Região e trazer a Venezuela de volta às relações internacionais, inclusive negociando o fim dos bloqueios irresponsáveis que agravam a crise interna e asfixiam a economia do País.
10. Parece-me imprudente (para não ser indelicado) a posição do Partido dos Trabalhadores que resolveu emprestar seu apoio automático a Nicolás Maduro, ignorando sua condição de maior partido de esquerda da América Latina, que governa o maior país da Região e que abriga um dos maiores líderes políticos do mundo (LULA DA SILVA), colocando-o numa saia-justa, desnecessariamente.
11. No mais, a posição dos partidos e correntes de esquerda, em relação ao regime venezuelano e, especialmente em relação a Nicolás Maduro, sempre esteve muito longe da unanimidade.
12. Sou daqueles que não compartilham o conceito de Maduro como um revolucionário de esquerda, nem enxergam no seu governo uma perspectiva socialista, de emancipação da classe trabalhadora. Proclamarem-se anti-imperialistas (Maduro e seu Governo) não os torna socialistas e democráticos. E negar-lhes essas características, pelas próprias evidências daquilo que representam na prática para o povo venezuelano, não faz ninguém pró-imperialismo ou pró-capitalismo.
13. Por fim, merece ainda registrar que opinar acerca do processo eleitoral não é o mesmo que opinar sobre seus protagonistas; e que pensar como presidente do Brasil, em relação aos fatos que envolvem as eleições venezuelanas, não é igual a pensar como militante de um agrupamento de esquerda. Portanto, torço para que o Presidente LULA tenha as informações suficientes e a sabedoria necessária, quando chegar a hora de traduzir para o mundo, a posição do Governo do Brasil.
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José Professor Pachêco, advogado e professor - nas redes sociais.
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