Há espaços para todos, inclusive na política. Mas, convenhamos, essa história de “governo do povo, para o povo e pelo povo” é muito relativa. E, em muitos casos, soa demagógica. Por várias razões. Uma delas, que eu penso, é que nenhum político sai diretamente do povo. Na verdade, ele se lança candidato ou é indicado por uma cúpula partidária e, às vezes, até sindical. Uma vez eleito, pode satisfazer ou não a população, tornando-se popular. Isso pode acontecer nas democracias ou nas ditaduras. Getúlio Vargas, por exemplo, era um ditador, mas gozava de prestígio entre os trabalhadores. Hitler, em seu país, era ovacionado como líder político, ao ponto de transformar a eugenia em aspiração popular. Assim como tivemos grandes líderes nas democracias, como John Kennedy, De Gualle, Perón e muitos outros. Nenhum, entretanto, nasceu do povo. Todos eles se esforçaram e percorreram longos caminhos até o lançamento de suas candidaturas e sua consequente eleição.
É possível que essa minha análise seja equivocada, como alguns podem achar. O que importa mesmo é que essa visão greco-romana da política tem causas bem distintas. E uma delas é certamente a vida nas cidades. Por causa do aumento populacional, os problemas viralizam, para usar um modismo da internet. E caem na boca do povo, que, de repente, se transforma em Deus ou deuses. E mais uma vez, a política vai a Roma: Vox populi, vox Dei. O povo quer ou o povo não quer. Aí, de repente, aparecem nomes, muitas vezes não sabemos de onde, e se lançam candidatos dizendo representar o povo. Basta que olhemos os cartazes e os santinhos que utilizam nas campanhas para comprovar o que estou afirmando.
Do ponto de vista de nossa cidade, basta subir o morro do Urubu e olhar em círculo que teremos uma visão de 360 graus. Isso pode nos levar a uma reflexão. Não estamos sós. Não somos uma ilha cercada de morros por todos os lados, como a visão lá de cima pode parecer. Somos famílias. Milhares de famílias. Com nome e sobrenome. Temos parentes que, nem ao menos, conhecemos. Os que descendem dos primeiros fazendeiros, ou dos escravos, ou dos índios, ou dos encarregados, ou dos meeiros; e aqueles que escolheram morar e trabalhar aqui. Somos famílias e estamos em todos os lugares, com nome e sobrenome. Estamos, portanto, politicamente, espalhados por todos os partidos, preferências, simpatias e, até mesmo antipatias. Como na política greco-romana, em que filho assassinou pai ou mãe. Somos famílias mesmo assim, não deixamos de sê-las. Há os que se mantêm unidos e os que preferem tomar outro rumo. Isso acontece, como se diz por aí, com as melhores famílias. E não vejo nisso nenhum pecado. Afinal, cada um de nós tem vida própria, dependendo ou não dos outros. Quem não depende? Cada um de nós pensa de um jeito diferente, mas podemos achar que pensamos igual a outra pessoa (que teve coragem de se candidatar). Há algum mal nisso?
Urge, portanto, que nos comportemos como povo, uma vez que optamos em não ser candidatos. E como povo, cada um é cada um, do contrário, viramos massa de manobra. Exigimos mais dos outros do que de nós mesmos. Talvez por isso que as coisas não se resolvem. Na antiguidade, Confúcio ensinava: “Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos”.
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Lourival Lopes Silva, professor do IFPI - nas redes sociais.
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