Gente amiga, escrevo para desabafar.
Estou cabisbaixo nesta manhã de domingo. Acabei de assistir o debate dos candidatos à prefeito de Parnaíba, ocorrido ontem. O debate empobreceu nossa cultura política.
A tentativa de desclassificação do doutor Hélio por “ser de fora” alimentou o cabotinismo. Negou a história de uma cidade construída por adventícios.
Parnaíba mostra traços de todo o mundo ocidental, onde o burguês europeu se impôs. É também meio africana, não apenas por conta dos afrodescendentes, mas por replicar o que os ibéricos levaram à África.
Há cidades nas margens do Oceano Índico que me lembraram Parnaíba. Vi ruas, praças e casas iguaizinhas às que temos aqui. Em Cuba, do mesmo jeito.
Parnaíba fez-se como empório comercial. Empórios atraem circunvizinhos. Abraço os que vêm de Tutóia, Camocim, Granja, Chaval, Buriti dos Lopes, Miguel Alves, São Bernardo, Cocal... São conterrâneos queridos!
Outro momento ruim foi a tentativa de desclassificação de Francisco Emanuel por ser jovem. Quem disse que jovem não pode administrar melhor que alguém de mais idade?
Há velhos que nasceram velhos e idosos que não envelheceram.
A discriminação do jovem é tão inadmissível quanto à discriminação do velho. Etarismo é crime!
A acusação de que Francisco Emanuel administraria sem autonomia em relação ao atual prefeito sugere a ideia de que alguém pode administrar desatrelado de esquemas políticos.
Isso não existe em nenhum sistema político do mundo, nem em autocracias!
O sistema político brasileiro é oligárquico e no Piauí não é diferente. Há famílias que se eternizam no mando. Zé Hamilton é o que melhor exemplifica o sentimento oligárquico: sua família participa do mando há mais de um século, mas isso não compromete suas qualidades de administrador.
Não fosse o apoio que deu ao fascista Bolsonaro, eu poderia votar em Zé Hamilton.
Aliás, líderes de esquerda também adotam práticas antirrepublicanas quando indicam suas mulheres, filhos e sobrinhos para posições públicas. A disputa eleitoral em nossa cidade aprofunda a fragilidade do espírito republicano.
O momento mais baixo do debate foi quando uma mãe solteira foi estigmatizada. Embrulhei o estômago. Tenho vontade de mandar um buquê de rosas a mulher agredida. Julgar um candidato por não ter sido criado pelo pai biológico é um desrespeito.
Nenhum aspecto programático foi seriamente discutido ontem.
Os candidatos não expuseram propostas objetivas para dinamizar a economia, ampliar e baratear a produção de alimentos, gerar emprego, conter a especulação imobiliária, defender o meio ambiente, inibir o patriarcado, desenvolver a ciência e a tecnologia, impulsionar a cultura, revitalizar o centro histórico...
Enfim, nenhum mostrou cuidado com o amor-próprio parnaibano.
Meu voto está decidido faz tempo. Sou de esquerda, votarei em quem representa, pelo menos formalmente, a luta contra o ultraconservadorismo que nos ameaça.
Mas como gostaria que essa disputa eleitoral ajudasse o parnaibano a ganhar melhor compreensão do momento histórico que atravessamos!
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Manuel Domingos Neto é parnaibano, Doutor em História pela Universidade de Paris - nas redes sociais.
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