Ele gostava de livros, algo que nos aproximou. Não sei precisar quando iniciamos nossa amizade, sei que foi no cruzamento de interesses e atividades nos campos acadêmico e cultural. Ricardo Alaggio era culto, um ótimo interlocutor, aprendia muito com ele, falava de teorias econômicas, hermenêutica política, cultura geral. Vibrávamos comentando de Shakespeare, de literatura brasileira, latino-americana, de Bach…
Lembro que ele citava o economista mineiro Eduardo Giannetti, e eu via muita semelhança entre os dois no modo plural de atuação intelectual, essa forma de interesse múltiplo, de interseção de conhecimentos.
Quando foi em minha casa pela 1ª vez, ficou destacando os livros de minha biblioteca que ele também tinha na sua, encantou-se com algumas coincidências. Era sim, um amante da palavra encadernada.
E antes de mais nada, um gentleman, muito atencioso e afetuoso, até nos conflitos. Politicamente não concordávamos em tudo, mesmo nos situando mutualmente no campo progressista e suas incongruências. Defendia, por exemplo, as privatizações, elogiava o governo FHC. Certa vez, tentou me convencer a ler o autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, mentor intelectual de fascistóides brasileiros, com o argumento de que era preciso conhecer as ferramentas deste tipo de pensamento. Recusei peremptoriamente. Mais grave foi quando, na eleição de 2022, insinuou uma justificativa de um possível voto em Bolsonaro, aí instalou-se uma barricada entre nós, sem chance de considerar tal possibilidade. Ainda assim, nossa amizade não sofreu abalo, queria crer que ele não tenha mesmo votado no indigitado…
Ricardo, além de exercer a docência tinha pendor administrativo. Foi, durante mais de uma gestão, diretor da editora da UFPI. Ético, só foi lançar seu livro quando deixou a direção da Edufpi (na foto ele exibe a medalha e seu arrojado livro “Kennedy e o Brasil”, premiado pelo departamento de estado norte-americano).
ALaggio era um boêmio sofisticado, trocamos muitos drinks, dialogismos e risadas nas noites cálidas de Teresina. é, meu amigo Ricardo, acho que já discutimos isso, quando um dia falávamos do Mário Faustino: morrer é coisa triste…
*****
Feliciano Bezerra, professor doutor da UESPI - nas redes sociais.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.